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Brasil tem enfrentado uma preocupante escala de Crise Ambiental.


Imagem de satélite da América do Sul na manhã de (30/08/2024), mostrando a região amazônica, cerrado e pantanal cobertos por fumaça proveniente de queimadas.


Nos últimos anos, o Brasil tem enfrentado uma preocupante escala da crise ambiental, com destaque para o aumento das queimadas na Amazônia e no Cerrado. Embora o debate público muitas vezes culpe pequenos agricultores e práticas tradicionais de manejo do solo, uma análise mais profunda revela que os verdadeiros protagonistas por trás desses desastres são muito maiores e mais poderosos: o agronegócio.


Segundo o Relatório Anual do Desmatamento (RAD) do MapBiomas, o Cerrado ultrapassou a Amazônia em termos de área desmatada. O relatório destacou que a expansão agropecuária foi responsável por quase todo o desmatamento do país (97%) nos últimos cinco anos. De acordo com o levantamento, o Brasil perdeu 8.558.237 hectares de vegetação nativa nesse período, uma área equivalente a duas vezes o estado do Rio de Janeiro.


É frequente encontrar na mídia e nas redes sociais a narrativa de que as queimadas são causadas principalmente por pequenos agricultores em áreas remotas. De fato, há comunidades que dependem historicamente do fogo para limpar áreas de plantio e pastagem. No entanto, essas práticas muitas vezes não são o principal motor das grandes queimadas que assolam o país.


Ao investigar mais a fundo, percebe-se que a ação humana responsável pelas queimadas inclui práticas ilegais de desmatamento e queima para expansão de áreas agrícolas e pecuárias em larga escala. Grandes empresas do agronegócio, frequentemente apoiadas por políticas governamentais favoráveis, têm sido identificadas como grandes causadoras dessas tragédias ambientais. O desmatamento ilegal, muitas vezes realizado para abrir novas áreas de cultivo de soja, cria um ciclo vicioso de destruição ambiental.


No livro Agronegócio e Indústria Cultural: Estratégia das Empresas para Construção da Hegemonia, a pesquisadora e militante do MST, Ana Chã, evidencia que, nos últimos anos, a classe dominante agrária se "reorganizou e fortaleceu um novo segmento patronal rural, que atua, entre outras coisas, para fazer pressão sobre o governo e mesmo ditar as regras do jogo da política". Ela acrescenta que a elite econômica brasileira "tem como uma das suas principais missões consolidar uma imagem positiva do agronegócio para a sociedade, ocultando suas contradições".


Surpreendentemente, em muitas discussões públicas e reportagens jornalísticas, a palavra "agronegócio" parece ser evitada quando o assunto é crise climática. Apesar de ser um dos pilares da economia brasileira, a indústria agropecuária industrializada também é responsável por uma parcela significativa do desmatamento e das queimadas no país. Este setor, que representa uma força política e econômica imensa, muitas vezes escapa de críticas diretas nos meios de comunicação de massa.


Há, por trás do silêncio da grande imprensa, um financiamento substancial do agronegócio para os meios de comunicação, como jornais impressos, TV, rádios e, atualmente, redes sociais. Ana Chã explica em seu livro: “Por um lado, mantendo uma aposta nos formatos mais tradicionais, mas, por outro lado, cada vez mais no digital, como redes sociais e aplicativos de celulares”. Temos aqui uma rede de meios de comunicação que não só cita o agronegócio, mas também o defende com publicações como “agro é pop, agro é tech, agro é tudo”.


Dados de organizações ambientais e científicas mostram que uma parte substancial das queimadas ocorre em terras diretamente ligadas ao agronegócio. O aumento das áreas desmatadas para plantações de soja, milho transgênico, eucalipto e pastagens não apenas destrói ecossistemas, mas também contribui para as mudanças climáticas globais, afetando não só o Brasil, mas todo o planeta.


Enquanto discutimos quem são os responsáveis pela crise ambiental no Brasil, é crucial reconhecer que a verdadeira resposta está na interseção entre interesses econômicos capitalistas de acumulação e a falta de políticas eficazes de conservação ambiental. Embora pequenos agricultores possam ter seu papel nas práticas locais de manejo, são os interesses corporativos do agronegócio que precisam ser enfrentados com urgência para evitar um futuro ainda mais sombrio para nossos recursos naturais.


Portanto, desafiar o status quo e trazer à luz o papel do agronegócio na crise ambiental é fundamental para um debate público e para a implementação de políticas que realmente protejam nosso meio ambiente. Precisamos buscar, no presente, saídas para barrar o ataque violento que o modo de produção capitalista vem fazendo ao nosso meio ambiente.


Queimadas no Pantanal em 2024 — Foto: Divulgação/Governo do MS


O agro é fogo, é crise climática.


Texto: Walisson Rodrigues

MCP Pernambuco.

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